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Imperatriz, a cevada cervejeira do futuro

Apresentada no Winter-Show, variedade deve aumentar produtividade em 3% a partir de 2020

07/11/2019

PAULO ESTECHE

Ela tem nome de rainha e traz em seu núcleo a vitalidade que germina e se multiplica. A cultivar Imperatriz, em homenagem à Imperatriz Dona Leopoldina, é uma das expectativas para a próxima safra de cevada da Cooperativa Agrária Entre Rios Ltda, em Guarapuava, com estimativa de aumentar a produtividade em até 3% comparativamente à última colheita, segundo o agrônomo Noemir Antoniazzi, pesquisador da Fundação Agrária de Pesquisa Agropecuária (FAPA) e considerado o “pai” desta nova variedade.

Resultado de 12 anos de estudos da FAPA, pode ser classificada como a semente de cevada cervejeira genuinamente suábia, desenvolvida nos laboratórios de Entre Rios – um dos principais centros agrícolas do Brasil, sede da maior maltaria da América Latina, a Agromalte.

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Imperatriz vem para se somar a outras quatro cultivares que já estão produzindo, a Ana 1, Ana 2, Irina e a Danielle, todas revestidas de um sentido feminino, da excelência de gerarem frutos vistosos, agregando produção e produtividade, e resistentes o suficiente para enfrentar as intempéries no oscilante inverno do Terceiro Planalto Paranaense.

A semente foi uma das novidades do Winter-Show deste ano, o maior evento de cereais de inverno do País, promovido pela Agrária, e tem um sentido especial para os cooperados.  Além de fazer frente aos grandes desafios que cercam a cultura da cevada na região, de clima úmido-temperado, com safras que combinam elevação de temperatura e de chuvas no ciclo de crescimento da planta, favorecendo o aparecimento de doenças, a Imperatriz tem uma simbologia intimamente ligada ao sucesso da melhoria genética em quatro décadas de pesquisa em Entre Rios.

EVOLUÇÃO

Para se chegar à produtividade média atual de cevada, de 4,6 ton/ha, e ser detentora de um poderoso parque industrial no qual a Agromalte atinge a produção de 350.000 ton/ano de malte, a Agrária vem investindo firme em pesquisas desde o início dos anos 1970, quando foi fundada a antiga Estação Experimental, culminando com a instalação da FAPA, em 1995, na Colônia Vitória.

Os pesquisadores brasileiros contam com parcerias com instituições de pesquisas internacionais, públicas e privadas, como a Ackermann, empresa de melhoramento genético de cevada da Baviera, no sul da Alemanha. E as nacionais, como Embrapa e Iapar, e cervejarias Antarctica e Brahma.

A Danielle, que é a principal variedade na atualidade, surgiu do convênio com a Ackermann. A Imperatriz não existiria não fossem os cruzamentos genéticos em contínuos testes de laboratórios e pesquisas de campo nos municípios de Guarapuava, Pinhão e Candói, cruzando com variedades do Rio Grande do Sul, até estar pronta para ser distribuída na lavoura.

O COMEÇO

Entre a pesquisa e o campo, porém, existe uma figura primordial nesse processo: o agricultor.

A cevada que brota nas áreas cultivadas pelos cooperados da Agrária confunde-se com a existência da maior colônia de agricultores de Suábios do Danúbio do mundo, uma história de 68 anos em terras brasileiras.

A agricultura corre nas veias desses produtores rurais, herdeiros das tradições épicas do extinto Império Austro-Húngaro (1867 a 1918), região que nos tempos dos suábios, na Iugoslávia, era denominada de “Celeiro da Europa”. Entre os milhares de povos que foram dizimados entre a 1ª e a 2ª Guerras Mundiais, encontravam-se os suábios e suas lavouras, submetidos ao exílio na Áustria e repatriados para o Brasil a partir de 1951, quando foi fundada a Cooperativa Agrária.

Desde então, os suábios brasileiros, como passaram a ser conhecidos, não pararam mais de plantar, pesquisar, colher, acumular frustrações, aprender com os erros e prejuízos, unificados a uma cooperativa que opera como centro nervoso de um sistema econômico e social diferenciado.

Primeiro foram as plantações de trigo, que não deram certo, pelo desconhecimento de clima e solo. Depois veio o arroz, que chegava ao terceiro ano com problemas de pragas e sem herbicida. O início do ciclo da soja e do milho foi estimulante, desde que combinado com culturas de inverno, dentro da técnica de plantio direto e rotação de culturas adotada pela Cooperativa, fatores para os quais a introdução da aveia e da cevada foram determinantes para alternar com o trigo.

A primeira semente de cevada foi lançada ao solo de Entre Rios no começo dos anos 1970, pelos irmãos Johann e Franz Pertschy, filhos de um dos pioneiros da Colonização Suábia, o croata Josef Pertschy. Eles ganharam a semente de uma pessoa em Guarapuava e passaram a cultivá-la no quintal de casa, para servir de ração aos porcos. Outros cooperados se interessaram, até chegar ao conhecimento da direção da Agrária, que viu na cevada não só comida para animais, mas o potencial para a produção de malte cervejeiro.

Por muitos anos, a semente dos Pertschy fez dupla com a Antarctica 1 – ou a Breus-Vola, em referência a um agricultor e geneticista alemão –, precursora das cerca de 30 variedades plantadas e pesquisadas pela Cooperativa em quase meio século de Estação Experimental e de FAPA.

Johann Pertschy, um dos precursores do plantio de cevada em Entre Rios, e o pesquisador Noemir Antoniazzi, da Fundação Agrária de Pesquisa Agropecuária e melhorista da variedade Imperatriz: meio século de evolução na genética de sementes de cevada

DO CAMPO PARA A INDÚSTRIA

A cevada veio para suprir a necessidade de mais alternativas de plantio de inverno, em alternância com os custos fixos da soja (máquinas e implementos), situação que só o trigo não bastava. Mesmo com a dificuldade inicial de fungicidas, para combater as doenças da folha (Mancha em Rede e Giberela, principalmente), os investimentos em tecnologia genética e a disciplina dos agricultores em acatar as orientações técnicas foram eliminando barreiras paulatinamente e abriram espaço para a construção da Agromalte.

Foi em 1981 que a maior maltaria da América Latina entrou em operação, em sociedade com a Companhia Antarctica Paulista e o apoio do Plano Nacional de Autossuficiência em Cevada, o Planacem, do governo federal. Previa linhas de crédito para construção de maltarias e a compra da produção pelas cervejarias.

A imponência das torres da Agromalte, que podem ser apreciadas à distância em meio às lavouras e às cores da estação, tornou-se um símbolo da evolução agroindustrial de Entre Rios, traduzida pelo avanço da pesquisa genética e, mais recentemente, pela disseminação de cervejarias artesanais na Região Central do Paraná e de uma lei estadual que define Guarapuava como “Capital Estadual da Cevada”. Em resposta a isso, foi inaugurada, agora em outubro, a Akademie, parceria da Agrária com a Ireks do Brasil, um centro de excelência em pesquisa para atender empreendedores que queiram lançar novos produtos de panificação e cervejas. O mercado cervejeiro artesanal, para se ter uma ideia, registrou no ano passado crescimento de 35% no Brasil.

Da Antarctica 1 à Imperatriz, o diferencial é que Entre Rios saiu de 1 tonelada por hectare, em 1973, para 4,6 toneladas em 2019. Aumentou a produtividade e a qualidade para malteação.

O pesquisador Noemir Antoniazzi vê o crescimento da cevada no Sul do Brasil com o mesmo entusiasmo de quem testemunhou o desabrochar da semente Imperatriz. O cálculo é o seguinte: o Brasil consome 800.000 toneladas de cevada e só produz 300.000; a diferença (500.000 toneladas) é importada. “Na parte genética nós já conhecemos o caminho. O potencial para expandir as áreas de lavoura de cevada existe, e é muito grande”, resume Antoniazzi.

Detalhes técnicos apresentados pela FAPA ao Ministério da Agricultura

A variedade Imperatriz foi registrada no Registro Nacional de Cultivares do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento com o nome científico de Hordeum vulgare (L.).

Leva assinatura de responsável-técnico do agrônomo Noemir Antoniazzi e a Fapa (Fundação Agrária de Pesquisa Agropecuária) como instituição proprietária.

Cruzamento da ABRS02-024/BRS Elis// PFC 2002060(BRS Brau), com as seguintes genealogias:

ABPR 14012

- parentais imediatos: Linhagem ABRS02-024/cultivar BRS Elis//Linhagem PFC 2002060(BRS Brau)

O relatório técnico do processo de seleção é o seguinte:

O cruzamento entre Linhagem ABRS02-024 e a cultivar BRS Elis foi realizado na primavera de 2009 em Passo Fundo/RS. Espigas do híbrido F1 foram cruzadas com a Linhagem PFC 2002060, atualmente cultivar BRS Brau, no verão de 2010, em Guarapuava/PR As sementes F1 foram cultivadas em estufa no inverno de 2010 e colhidas em massa em Guarapuava/PR. A geração F2 foi conduzida em massa, em Guarapuava, PR, no verão de 2011. A geração F3, foi conduzida em massa, em Guarapuava, PR, no inverno de 2011. A geração F4 foi conduzida em Guarapuava, PR, no inverno de 2012 em plantio espaçado, onde realizou-se a seleção de 52 plantas, as quais, na geração F5,  foram avaliadas em parcelas individuais por cada planta selecionada. Na geração F6, as linhas selecionadas foram conduzidas em parcelas individuais de 5,0 m², em Guarapuava, PR, no inverno de 2013. Na geração F7, as linhas fixas selecionadas foram avaliadas no Ensaio Preliminar, em Guarapuava, PR, no inverno de 2014. Uma das linhas reunidas como nova linhagem, a ABPR 14012, foi avaliada na rede de ensaios de VCU de cevada da FAPA, em Guarapuava/PR, Candói/PR e Pinhão/PR, nos anos de  2015, 2016 e 2017.

Região de adaptação: apresentar indicadores da adaptação da cultivar em relação a altitude, latitude, época de plantio e/ou outros fatores bióticos/abióticos, a critério do responsável pelo ensaio/requerente.

Imperatriz é de ampla adaptação com potencial agronômico competitivo em todas as regiões produtoras de cevada cervejeira nos estados do RS, SC, e PR

RELATÓRIO TÉCNICO

- Dados de produtividade:

Na média de nove ambientes (três anos em três locais) de execução de ensaios VCU, Imperatriz apresentou rendimento de grãos 2,8% superior ao obtido pela testemunha ANAG 01.

Comportamento ou reação às principais pragas e doenças:

A cultivar Imperatriz apresenta moderada resistência ao oídio e a ferrugem da folha e moderada suscetibilidade a mancha marrom, a mancha em rede e a  giberela.

Região de Adaptação: RS, SC e PR
Outros dados que justifiquem a sua importância para o mercado nacional e/ou internacional: Em análises de micro-malteação realizadas a partir de amostras provenientes dos ensaios de VCU, Imperatriz apresentou qualidade de malte dentro dos atuais padrões exigidos pela indústria cervejeira.

Obs: estas informações constam do relatório original apresentado pela FAPA ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

 

 

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