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Prisão de Queiroz e renúncia de Weintraub aprofundam crise no Governo Bolsonaro

Denúncias contra ex-assessor atingem o senador Flávio Bolsonaro, filho do presidente

18/06/2020

O Governo Jair Bolsonaro viveu nesta quinta-feira (18) mais um dia de uma crise política que se prolonga e se aprofunda, com a prisão do ex-assessor Fabrício Queiroz e a renúncia do ministro da Educação, Abraham Weintraub.

A sequência começou nas primeiras horas da manhã com a prisão de Queiroz, protagonista de um escândalo que envolve diretamente o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro e acusado de ser o cabeça de um esquema de “rachadinha” de salários na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Segundo as investigações, Queiroz era quem conduzia a transferência de valores em favor do seu patrão, o então deputado Flávio Bolsonaro.

O ex-deputado se defendeu das acusações ainda pela manhã, com publicação numa rede social, onde afirma que a Operação Anjo e a prisão de Queiroz só aconteceram para comprometer o presidente Jair Bolsonaro, pelo cargo que ele ocupa. “O jogo é bruto”, resumiu.

O nome de Fabrício Queiroz consta em um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), que aponta uma movimentação atípica de R$ 1,2 milhão em uma conta em nome do ex-assessor.

O relatório integrou a investigação da Operação Furna da Onça, desdobramento da Lava Jato no Rio de Janeiro, que prendeu deputados estaduais no início de novembro do ano passado.

Contra outros suspeitos de participação no esquema (o servidor Matheus Azeredo Coutinho, os ex-funcionários Luiza Paes Souza e Alessandra Esteve Marins e o advogado Luis Gustavo Botto Maia), o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro obteve na Justiça a decretação de medidas cautelares que incluem busca e apreensão, afastamento da função pública, comparecimento mensal em juízo e a proibição de contato com testemunhas. 

O advogado de Fabrício Queiroz, Paulo Emílio Catta Preta, considerou a prisão preventiva de seu cliente como medida jurídica exagerada e desnecessária. Ele disse ainda que pedirá que seu cliente seja transferido para uma unidade prisional da Polícia Militar, já que ele é PM reformado. Catta Preta falou com a imprensa no início da tarde desta quinta-feira, do lado de fora do Presídio de Benfica, no Rio de Janeiro, para onde seu cliente foi levado após a prisão.

“Me parece excessivo uma pessoa que sempre esteva à disposição, que está em tratamento de saúde, que ofereceu esclarecimentos nos autos, que não apresenta risco nenhum de fuga, ela sofra uma medida tão pesada quanto uma prisão preventiva. Mas eu só vou poder fazer um juízo definitivo disso, no momento em que eu tiver a decisão.”

Abraham Weintraub anuncia saída do Ministério da Educação 

Em vídeo publicado nas redes sociais nesta quinta-feira (18), o economista Abraham Weintraub anunciou sua saída do cargo de ministro da Educação, que ocupava desde abril de 2019. Na gravação, ele aparece ao lado do presidente Jair Bolsonaro.

Os rumores da saída do ministro se intensificaram ao longo dessa semana, especialmente após a participação dele em manifestações de apoiadores do governo no domingo. Weintraub é investigado em inquérito sobre fake news, que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF), e também responde uma apuração na Corte por racismo por ter publicado um comentário depreciativo sobre a China.

"Sim, dessa vez é verdade. Eu tô saindo do MEC [Ministério da Educação], vou começar a transição agora e, nos próximos dias, passo o bastão para o ministro que vai ficar no meu lugar, interino ou defnitivo", afirmou Weintraub. Ele anunciou, na sequência, que assumirá um cargo de diretor no Banco Mundial, que tem sede em Washington, nos Estados Unidos.

"Não quero discutir os motivos da minha saída, não cabe. O importante é dizer que recebi o convite para ser diretor de um banco, eu já fui diretor de um banco no passado, volto ao mesmo cargo, porém, no Banco Mundial. O presidente já referendou. Com isso, eu, a minha esposa, os nossos filhos, e até a nossa cachorrinha, Capitu, a gente vai ter a segurança que hoje me está deixando preocupado", acrescentou. 

O agora ex-ministro disse que seguirá apoiando o presidente da República e que compartilha dos mesmos valores, citando família, liberdade, franqueza e patriotismo. Após o anúncio de Weintraub, Jair Bolsonaro declarou que o "momento é difícil", mas que mantém os mesmos compromissos assumidos durante a campanha.

"É um momento difícil. Todos os meus compromissos de campanha continuam em pé, e busco implementá-los da melhor maneira possível. Todos que estão nos ouvindo agora são maiores de idade e sabem o que o Brasil está passando, e o momento é de confiança. Jamais deixaremos de lutar por liberdade", afirmou.

O governo ainda não confirmou quem assumirá o MEC no lugar de Abraham Weintraub.  

GESTÃO

Em nota, o MEC afirmou que, durante sua gestão, o ministro lançou a programa Escola de Todos e conseguiu promover economia na compra de materiais escolares. A nota também descata o lançamento do edital para que, a partir de 2022, todas as crianças da pré-escola tenham livros. Também durante a passagem do ministro pela pasta foi implementado o projeto-piloto do Programa Nacional das Escolas Cívico-Militares que está em 26 cidades de 18 estados brasileiros.

Durante a pandemia, o ministério manteve repasse de recursos da merenda escolar a estados e municípios e propôs que o dinheiro fosse utilizado para a compra de alimentos a serem distribuídos pelas Secretarias de Educação em kits às famílias dos alunos.

REPERCUSSÃO

Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara dos Deputados, se manifestou na tarde de hoje sobre a saída do ministro da Educação. Ele diz que espera que o MEC possa ficar melhor. “Todo mundo sabe a minha posição, então não adianta aqui ficar reafirmando, não é isso que vai melhorar o diálogo com o Ministério da Educação. Esperamos que a gente possa ter, no Ministério da Educação, alguém de fato comprometido com a educação e com o futuro das nossas crianças."

Em nota, entidades estudantis afirmam que a saída de Weintraub do MEC é "resultado da resposta dos estudantes que foram às ruas aos milhões no ano passado no Tsunami da Educação", como foram chamadas as manifestações em defesa da educação e de mais recursos públicos para a área. 

"Seguiremos atentos com o que vier. Reforçamos que o debate sobre o adiamento do ENEM precisa passar por uma discussão mais profunda, e não apenas por uma enquete. Reafirmamos nosso compromisso com a defesa de uma educação de qualidade para todos brasileiros e todas brasileiras, uma educação que sirva para reduzir desigualdades e alcançar uma sociedade mais justa", diz o texto assinado pela  Associação Nacional dos Pós-graduandos (ANPG), União Nacional dos Estudantes (UNE) e União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes).

 

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